A dopamina e a busca pelo prazer: quando o cérebro se torna refém
- Editor Paranashop

- 28 de set.
- 4 min de leitura
A dopamina, neurotransmissor responsável pela motivação e pela sensação de
recompensa, é essencial para o funcionamento do cérebro. No entanto, quando
estimulada em excesso, pode transformar a busca pelo prazer em um ciclo de
dependência difícil de quebrar.

Segundo o neurocirurgião Dr. Denildo Veríssimo, especialista em doenças do crânio,
coluna e técnicas minimamente invasivas, “a dopamina é fundamental para o
aprendizado, para a memória e para o controle dos impulsos. Mas quando o cérebro é
exposto a estímulos constantes, como redes sociais, jogos, consumo exagerado de
tecnologia ou até drogas, esse sistema se desregula e passa a exigir doses cada vez
maiores de satisfação. O resultado é uma busca incessante que pode comprometer a
saúde mental e física”.
Um exemplo marcante da força do sistema de recompensa vem de um experimento
clássico realizado em 1954 pelos cientistas James Olds e Peter Milner. Ratos
receberam eletrodos em regiões cerebrais ligadas ao prazer e acionavam uma
alavanca para obter estímulos elétricos. O resultado foi chocante: os animais
ignoraram comida e água, buscando apenas a sensação provocada pela descarga.
Muitos chegaram à exaustão e alguns morreram de fome. Esse estudo pioneiro
revelou como a dopamina pode assumir o controle do comportamento quando há
estímulos repetidos, ajudando a compreender desde vícios químicos até dependência
tecnológica.
A lógica é a mesma observada em dependências químicas. Substâncias psicoativas,
como álcool e drogas ilícitas, inundam o cérebro com dopamina e reforçam
comportamentos compulsivos. “Quando olhamos para a forma como o cérebro reage,
percebemos que a dependência digital pode provocar efeitos semelhantes. Curtidas,
notificações e recompensas instantâneas acionam os mesmos circuitos cerebrais que
levam ao vício em drogas. A diferença está apenas na intensidade, mas o mecanismo
é o mesmo”, explica o médico.
Um crescente corpo de estudos aponta que os jogos de azar, especialmente as
apostas online, sobrecarregam o sistema de recompensa do cérebro com liberação
constante de dopamina, impulsionando comportamentos compulsivos. Só no Brasil,
entre janeiro e agosto de 2024, cerca de 24 milhões de brasileiros realizaram
apostas online, movimentando mensais da ordem de R$ 21 bilhões, segundo
estimativa do Banco Central. Especialistas alertam que a dependência pode se instalar
rapidamente, com muitos apostadores utilizando dinheiro destinado à feira de casa ou
despesas essenciais, levando ao endividamento, isolamento, desgaste familiar, além
de consequências terríveis. Esse tipo de comportamento atua de forma semelhante ao
vício químico, porque ativa os mesmos circuitos cerebrais vinculados ao prazer
imediato e dificulta a recuperação do controle por parte da pessoa.
A longo prazo, a exposição constante a níveis elevados de dopamina pode provocar
alterações significativas no funcionamento cerebral e no comportamento. Pesquisas
mostram que esse excesso está ligado à perda de foco, à dificuldade em tomar
decisões equilibradas e à tendência a buscar recompensas imediatas de forma
compulsiva. Em situações extremas, pode desencadear sintomas graves, como mania,
delírios e alucinações. Estudos recentes ainda apontam que o consumo exagerado de
conteúdos digitais de curta duração gera mudanças cerebrais semelhantes às
observadas em casos de alcoolismo e dependência de jogos, comprometendo
memória e concentração.

Nos cérebros em desenvolvimento, o risco é ainda maior. Em crianças e adolescentes,
o córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento e pelo autocontrole, não está
plenamente amadurecido. A exposição precoce e repetida a estímulos digitais pode
interferir na formação saudável desses circuitos, tornando-os mais vulneráveis à
desatenção, à instabilidade emocional e a quadros de ansiedade e depressão. Para o
Dr. Denildo Veríssimo, compreender essa diferença é essencial para orientar famílias e
educadores sobre a importância de estabelecer limites no uso da tecnologia desde
cedo.
De acordo com pesquisas recentes, o uso excessivo de tecnologia está associado a
sintomas de ansiedade, depressão, irritabilidade e dificuldades de concentração. Além
disso, a exposição prolongada à luz das telas prejudica o sono e cria um ciclo ainda
mais difícil de romper.
Para o Dr. Denildo Veríssimo, o equilíbrio é a palavra-chave. “Não se trata de
demonizar a dopamina. Sem ela não teríamos motivação para estudar, trabalhar ou
conquistar objetivos. O problema surge quando esse prazer imediato substitui
conquistas que demandam esforço, disciplina e paciência. A ciência mostra que
pequenas mudanças de hábito, como limitar o tempo de tela, cuidar do sono e manter
consultas regulares, já ajudam a reequilibrar o cérebro e a saúde mental”, afirma.
O médico alerta ainda para a importância de entender o impacto das escolhas no dia a
dia. “O prazer da conquista é saudável e necessário. Mas quando o cérebro se
acostuma apenas a estímulos rápidos e repetitivos, perde a capacidade de encontrar
satisfação em experiências mais duradouras. É nesse ponto que precisamos intervir,
com informação e prevenção”, conclui.
Sobre o Dr. Denildo Veríssimo
Por Dr. Denildo Veríssimo, neurocirurgião, especialista em doenças do crânio, coluna e técnicas minimamente invasivas - Com uma carreira que combina excelência técnica, paixão pela ciência e um compromisso inegociável com o cuidado humanizado, o Dr. Denildo Veríssimo representa uma nova geração de médicos que enxergam além do bisturi. Sua atuação é guiada pelo conhecimento, mas também pela empatia, pelo desejo de aliviar a dor — física e emocional — e pela certeza de que cada paciente carrega uma história única. Em sua rotina entre centros cirúrgicos, consultórios e salas de aula, ele equilibra precisão
técnica com escuta ativa, conectando ciência e propósito em cada decisão clínica.
Para ele, Medicina não é apenas diagnóstico ou procedimento — é presença,
responsabilidade e respeito. Em um cenário cada vez mais tecnológico e acelerado,
Dr. Denildo reforça, com exemplo diário, que o toque humano continua sendo o maior diferencial da medicina. E que a verdadeira transformação acontece quando o saber se
alinha com a sensibilidade.



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