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Nova vacina no SUS: o que muda na proteção de bebês contra meningite

  • Foto do escritor: Da Redação com Assessoria
    Da Redação com Assessoria
  • 4 de jul.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 15 de jul.

Imunizante ACWY, que amplia a proteção contra quatro tipos de meningite, começou a ser oferecido na rede pública; entenda as vantagens da medida

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein


Nova vacina no SUS: o que muda na proteção de bebês contra meningite

Desde o último dia 1º de julho, o calendário nacional de vacinação passou a incluir a vacina meningocócica ACWY para crianças de 12 meses. Anunciada em 28 de junho pelo Ministério da Saúde, essa atualização representa um avanço importante na prevenção da meningite no Brasil. Ela amplia a proteção que antes era limitada ao tipo C.


O que é a vacina ACWY?


A nova vacina protege contra quatro sorogrupos da bactéria Neisseria meningitidis (A, C, W e Y). Ela substitui a dose de reforço da vacina meningocócica C, que era aplicada aos 3 e 5 meses do bebê. Até então, a versão mais completa da vacina, a ACWY, era oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) apenas para adolescentes entre 11 e 14 anos. Para as crianças pequenas, a imunização até então disponível abrangia somente o sorogrupo C, que historicamente é o mais prevalente no país.


Com a ampliação, os pequenos agora estão protegidos também contra os sorogrupos A, W e Y. A pediatra Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), esclarece: “A principal diferença entre a vacina C e a ACWY é a abrangência dos sorogrupos cobertos. A tecnologia das duas é a mesma, mas a ACWY oferece proteção contra mais três sorogrupos que podem causar doença invasiva grave.”


Como funciona a vacina ACWY?


A vacina ACWY é inativada, o que significa que não causa a doença. Ela é composta por fragmentos das cápsulas bacterianas dos sorogrupos A, C, W e Y, ligados a uma proteína que ajuda a gerar uma resposta imunológica mais eficiente.


Embora o sorogrupo C continue sendo o mais comum no Brasil, o acréscimo dos outros grupos é vital. Todos esses sorogrupos podem provocar meningite altamente letal e com potencial para deixar sequelas severas. “O sorogrupo W, por exemplo, tem chamado a atenção, pois observamos um aumento de casos no Sul do país e em outros países da América Latina”, comenta Bravo. “Esses surtos podem surgir de forma inesperada. Quando vacinamos a população contra diferentes sorogrupos, prevenimos futuras mudanças no cenário epidemiológico.”


Importância da vacinação


A epidemiologia da doença meningocócica é dinâmica e difícil de prever. “Mesmo que hoje o sorogrupo W não seja o mais preocupante, em um dado momento ele pode se tornar um grande desafio. Por isso, ampliar a proteção é fundamental. Quando a população está amplamente imunizada, reduzimos o impacto de possíveis surtos”, destaca a especialista.


Em relação à segurança da vacina ACWY, Bravo afirma que o perfil de reações adversas é semelhante ao da vacina contra o sorogrupo C. “Pode causar dor local, vermelhidão e inchaço – reações esperadas com qualquer imunizante. As vacinas conjugadas são um pouco mais reatogênicas, mas nada preocupante. A única contraindicação é para casos de alergia a componentes da vacina ou a doses anteriores”, ressalta.


Queda no número de casos


Segundo dados do painel de meningite do Ministério da Saúde, em 2025, já foram registrados 4.406 casos da doença no Brasil. Desse total, 1.731 foram causados por bactérias (361 deles por meningococos), 1.584 por vírus e 1.091 por outras causas ou de origem não identificada.


Em 2024, o país contabilizou 13.831 casos de meningite, sendo 5.558 bacterianos, dos quais 820 foram atribuídos a meningococos. Em 2023, foram confirmados 16.464 casos, incluindo 5.435 de origem bacteriana, com 730 infecções causadas por meningococos.


De acordo com Flávia Bravo, a queda nos casos da doença no Brasil está diretamente relacionada à vacinação, especialmente contra o sorogrupo C. “Aqui, as principais vítimas são crianças. Quando introduzimos a vacina contra a meningo C, vimos uma queda drástica nos casos, pois protegemos o grupo mais vulnerável”, diz.


Com o tempo, no entanto, esse sucesso acabou mudando o perfil da doença. Como as crianças passaram a estar protegidas contra o tipo C, outros sorogrupos (como o B) começaram a se tornar mais prevalentes. “Em termos absolutos, não houve aumento. Mas, como a vacina contra o B não está disponível no SUS para todas as crianças, ele tem sido mais comum entre os pequenos atualmente”, informa Bravo.


Identificação e diagnóstico


A identificação do sorogrupo causador da meningite ainda é um desafio no Brasil. Fatores logísticos e estruturais dificultam o diagnóstico laboratorial preciso em diversas regiões. Muitos locais dependem de laboratórios centrais especializados para identificar o agente corretamente. “Coletar material adequado, como líquido cefalorraquidiano ou sangue, no momento certo, e garantir que chegue em boas condições aos laboratórios centrais ainda é um obstáculo em várias partes do país”, explica.


Além disso, iniciar o tratamento antibiótico antes da coleta, uma medida necessária devido à gravidade da doença, pode prejudicar o diagnóstico. “A doença é muito agressiva, podendo levar à morte em 24 horas. Quando há suspeita de meningite, o tratamento com antibióticos deve começar imediatamente, mesmo sem diagnóstico laboratorial definitivo. No entanto, com as amostras que conseguimos obter, é possível estabelecer um panorama da circulação dos sorogrupos e embasar políticas públicas”, afirma a pediatra.


Esquema vacinal atualizado


Com a atualização do calendário, que já está em vigor, o esquema vacinal contra meningite no SUS agora é: meningocócica C aos 3 e 5 meses, meningocócica ACWY aos 12 meses e uma nova dose da ACWY entre 11 e 14 anos. Para crianças menores de 5 anos que ainda não receberam o reforço aos 12 meses, será possível atualizar o esquema com a vacina mais abrangente.


Segundo o infectologista Alfredo Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Einstein Hospital Israelita, essa é uma mudança significativa na estratégia nacional. “A introdução da ACWY para crianças aumenta considerablemente a cobertura contra a meningite. Embora o sorogrupo A tenha pouca relevância no Brasil, os grupos W e Y já representam cerca de 10% das infecções meningocócicas”, alerta.


Sintomas e prevenção


A meningite é uma inflamação das meninges, as membranas que revestem o cérebro. Os sintomas mais comuns são: cefaleia intensa, vômitos, febre alta e rigidez de nuca. “A manifestação cutânea de petéquias [pequenos sangramentos na pele] é mais frequente na meningite meningocócica. Quando aparece junto a esses outros sintomas, logo suspeitamos de meningite por meningococo e iniciamos o tratamento imediatamente”, explica Bravo.


A doença meningocócica é grave, de progressão rápida e alta letalidade. Quando não resulta em óbito, pode deixar sequelas graves, como surdez, amputações e comprometimentos neurológicos. A vacinação é a medida mais eficaz de prevenção. Além disso, a importante frase "a vacina é uma proteção eficiente" destaca a relevância da imunização na sociedade.


Fonte: Agência Einstein

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