top of page

Cansaço escolar no fim do ano é real — e o livre brincar pode ser o melhor remédio

  • Foto do escritor: Editor Paranashop
    Editor Paranashop
  • há 13 minutos
  • 4 min de leitura

Rotina intensa, excesso de estímulos e pouco tempo para descansar têm deixado as crianças emocionalmente esgotadas; psicóloga e educadora Vanessa Miranda explica por que desacelerar é essencial


Brincar sem pressão reduz o nível de cortisol, o hormônio do estresse, e melhora o humor (Foto: Ilustrativa/Freepik)
Brincar sem pressão reduz o nível de cortisol, o hormônio do estresse, e melhora o humor (Foto: Ilustrativa/Freepik)

À medida que o ano letivo se aproxima do fim, muitos pais percebem o mesmo cenário se repetir: filhos mais cansados, irritados e desanimados. Acordar cedo virou um desafio, as tarefas parecem mais pesadas e a paciência anda curta.Especialistas garantem: o cansaço escolar de fim de ano é real — e está cada vez mais presente em uma sociedade que acelera o tempo da infância.


“O segundo semestre é naturalmente mais intenso. As crianças acumulam o desgaste de meses de atividades, avaliações e compromissos, e convivem com um ambiente de muitos estímulos e poucas pausas”, explica a psicóloga e educadora Vanessa Miranda, especialista em desenvolvimento infantil e aprendizagem investigativa. “O resultado é uma sobrecarga física e emocional que aparece de várias formas: desinteresse, irritabilidade, alterações no sono e até sintomas físicos.”


Carioca radicada em Maringá, Vanessa estudou na Florida Atlantic University (EUA) e se especializou em Terapia Cognitivo-Comportamental para crianças e adolescentes. Mais tarde, em São Francisco, aprofundou-se em metodologias criativas de aprendizagem no Exploratorium Museum — e desde então se dedica a unir ciência, arte e educação emocional em seus projetos.


“Aprendi, ao longo da minha trajetória, que as crianças não precisam de mais atividades: precisam de mais tempo. Tempo para elaborar, descansar e brincar. E é justamente isso que falta quando o ano chega ao fim”, afirma.


Cérebro em alerta constante

A neurociência mostra que o cérebro infantil consome muita energia para manter a atenção e controlar emoções. Quando não há pausas restauradoras, o esforço contínuo leva ao esgotamento.


Estudos apontam que o excesso de telas, barulho e compromissos reduz a concentração e aumenta a irritabilidade. A falta de sono agrava o quadro: crianças que dormem menos tendem a apresentar mais impulsividade, queda de desempenho e maior vulnerabilidade ao estresse.


“Vivemos em um tempo de hiperestímulo, e as crianças absorvem esse ritmo sem perceber”, explica Vanessa. “Elas não têm maturidade neurológica para filtrar o excesso de informações e acabam sobrecarregadas. Por isso, as pausas e o brincar livre são tão importantes.”


Falta de contemplação: o silêncio que faz falta

No mundo atual, até o lazer é cronometrado. As crianças têm pouco tempo para o ócio e para a contemplação — aquele momento de simplesmente observar o céu, escutar o vento, desenhar sem objetivo.


“Nas nossas vidas de hiperestímulos falta o hábito de contemplação”, diz Vanessa. “A contemplação é um antídoto para o esgotamento infantil. Ela devolve ao cérebro a pausa que o mundo moderno retirou.”


Pesquisas confirmam: ambientes tranquilos e experiências simples ajudam o cérebro a se reorganizar e restaurar a capacidade de foco e autocontrole. Pequenos intervalos de calma, ao longo do dia, já fazem diferença.


Brincar livre: uma necessidade, não um luxo

Entre as estratégias mais eficazes para aliviar a sobrecarga está o brincar livre — aquele sem roteiro, instrução ou meta. É no faz de conta, nas invenções e nos jogos espontâneos que a criança processa emoções, elabora aprendizados e desenvolve autonomia.

Pesquisas de neurobiologia do brincar mostram que experiências não estruturadas fortalecem áreas do cérebro ligadas à tomada de decisão, criatividade e autorregulação.

Além disso, brincar sem pressão reduz o nível de cortisol, o hormônio do estresse, e melhora o humor.

 “O brincar livre não é só lazer — é um tempo de recuperação emocional”, reforça Vanessa.


O exemplo dos adultos também ensina

Crianças aprendem mais pelo exemplo do que pelas palavras. Quando observam adultos acelerados, conectados o tempo todo e sem tempo para descansar, elas reproduzem esse comportamento.

“Quando foi a última vez que você se permitiu deitar na grama, observar as nuvens e ouvir os pássaros sem pensar no que precisa fazer amanhã?”, provoca a especialista. “Ao desacelerar, ensinamos pelo exemplo o valor do tempo e do descanso.”


Como ajudar as crianças neste fim de ano

  • Diminua a agenda: reduza compromissos e priorize o essencial.

  • Crie rotinas de descanso real: menos telas à noite e horários fixos de sono.

  • Estimule o brincar livre: tecidos, blocos, massinha, caixas — tudo vale.

  • Inclua momentos de contemplação: cinco minutos para observar o céu ou uma planta.

  • Valide o cansaço: escute e acolha, sem pressionar por desempenho.


Mais leveza, mais infância

O esgotamento infantil não é falta de interesse nem preguiça — é um reflexo de um mundo rápido demais para cérebros ainda em formação.


Resgatar o tempo de brincar, o silêncio e o descanso é essencial para a saúde emocional das crianças — e um lembrete de que a infância precisa, mais do que nunca, de leveza.

“O descanso também ensina”, conclui Vanessa Miranda, autora do livro A Dona Aranha e o Espelho e criadora do projeto Criacurativa, que promove o brincar e a expressão emocional de crianças hospitalizadas. “E talvez seja essa a lição mais importante antes de o ano terminar.”


bottom of page